09 de julho
Por Sebastião Pinheiro
Uma faísca explodiu dentro de minha cabeça: ao ler
algo sobre a abelha melípona negra grande (Melipona scutellaris) que
está em extinção acelerada na região do Belterra no coração da Amazônia.
Quem estuda sempre se revela e rebela. Terá isso algo a ver com o Glyphosate
(Glifosato) usado nas sementes transgênicas do único cultivo que ali
existe?
Não tive juventude, mas conheço a letra “Help” dos
Beatles [Help, I need somebody Help, not just anybody Help, you know I need
someone, help!]. Eu pensava que, como todo fosforado, o Glyphosate tinha um
comportamento químico de éster orgânico. Mas, reflexão é tudo. O Glyphosate é um
sal e seus seis metabolitos idem [AMPA. HMPA, MPA, MAMPA, SARCOSINE y N-merthyl-N-phosphinomethylglycine] são sais, que se transformam; como são
formulados em P.O.E.A., com presença de álcoois, entre eles o isopropílico. Me
ocorre perguntar: - As abelhas ultrassociais carregam pólen e néctar em seu
corpo e esôfago com a ação imediata de enzimas hidrolíticas para evitar sua
rápida fermentação. Que impacto tem isso sobre o inseto ultrassocial? É público
e notório que o Glyphosate é um poderoso inibidor da colinesterase cerebral,
sem ser na sérica-plasmática. Quem tem os dados sobre sinergia e potencialização
dos metabólitos (degradabólitos) do Glyphosate no esôfago das abelhas? É pedir demais
ou as abelhas merecem?
Estava só em meu devaneio ultrassocial quando escutei
e soube que hoje, no dia em que deveria completar 47 anos de casado, uma data
em homenagem à República Argentina... resolvi recordar Vinicius, Toquinho,
além de Francisco Tenório Cerqueira Jr, o pianista do grupo, sequestrado
e torturado na ESMA em Buenos Aires, no macabro prelúdio da eliminação de
aproximadamente 30.000 jovens na última ditadura no pampa.
Resolvi buscar o poema de Vinicius sobre a Reforma
Agrária, como é muito comprido o coloco on-line para que, por meio das letras
maiúsculas, a rima possa ser acompanhada. Faço isso para que o senhor presidente
da U.D.R. agora responsável pela política fundiária no atual governo, entenda o
que está plasmado na constituição dos artigos 184 a 191 e todos sabem que as
15.000 empresas do agronegócio possuem 101 milhões de hectares, enquanto os 4,3
milhões de camponeses (agricultores familiares) têm menos de 70 milhões de
hectares. Minha homenagem ao pianista Francisco Tenório, que parecia ter
aspecto de intelectual de esquerda... segundo seus assassinos...
Os Homens da Terra Senhores Barões da terra
Preparai vossa mortalha Porque desfrutais da terra E a terra é de quem trabalha
Bem como os frutos que encerra Senhores Barões da terra Preparai vossa
mortalha. Chegado é o tempo de guerra Não há santo que vos valha: Não há foice
contra a espada Não o fogo contra a pedra Não o fuzil contra a enxada: - União
contra a granada - Reforma contra metralha Senhores Donos da Terra Juntai vossa
rica tralha Vosso cristal, vossa prata Luzindo em vossa toalha. Juntai vossos
ricos trapos Senhores Donos de terra Que os nossos pobres farrapos Nossa juta e
nossa palha Vêm vindo pelo caminho Para manchar vosso linho Com o barro de
nossa guerra: E a nossa guerra não falha! Nossa guerra forja e funde O operário
e o camponês; Foi ele quem fez o forno Onde assa o pão que comeis Com seu
martelo e seu torno Sua lima e sua turquês, Foi ele quem fez o forno Onde assa
o pão que comeis. Nosso pão de cada dia Feito em vossa padaria Com o trigo que
não colheis; Nosso pão que forja e funde O camponês e o operário No forno onde
coze o trigo Para o pão que nos vendeis Nas vendas do latifúndio Senhor
latifundiário! Senhor Grileiro de terra É chegada a nossa vez A voz que ouvis e
que berra É o brado do camponês Clamando do seu calvário Contra a vossa
mesquinhez. O café que vos deu o ouro Com que encheis o vosso tesouro A cana
vos deu a prata Que reluz em vosso armário O cacau vos deu o cobre Que atirais
no chão do pobre O algodão que vos deu o chumbo Com que matais o operário: É
chegada a nossa vez Senhor latifundiário! Em toda parte, nos campos Junta-se à
nossa outra voz Escutai, Senhor dos campos Nós já não somos mais sós. Queremos
bonança e paz Para cuidar da lavoura Ceifar o capim que dá Colher o milho que
doura, Queremos que a terra possa Ser tão nossa quanto vossa Porque a terra não
tem dono Senhores Donos da Terra. Queremos plantar no outono Para ter na
primavera Amor em vez de abandono Fartura em vez de miséria. Queremos paz, não
a guerra Senhores Donos da Terra... Mas se ouvidos não prestais Às grandes vozes
gerais Que ecoam de serra em serra Então vos daremos guerra Não há santo que
nos valha: Não a foice contra a espada Não o fogo contra a pedra Não o fuzil
contra a enxada: - Granada contra granada! - Metralha contra metralha E a nossa
guerra é sagrada A nossa guerra não falha!
Vinicius de Moraes
***
Por que as abelhas estão morrendo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"no artigo 5º, inciso IV da Carta da República: 'é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'."