11
de julho
Por
Sebastião Pinheiro
Nos tempos feudais, os
nobres e suseranos com poder absoluto sobre a vida administravam justiça,
obrigações e outorgavam normas e comportamentos. Por seu "bem
prazer", assumiam o comando militar conduzindo vassalos à guerra por
ganância dos territórios e riquezas com possível imolação, ou glória na
vitória. Um exemplo são os sanguinários sacerdotes da igreja nas Cruzadas e
Inquisições pelo mundo.
A pandemia impõe o isolamento
e a quem é disciplinado o obriga a estudar quando ele vê na TV ou em outras meios
de informações da mídia carregados de intenções indescritíveis do poder que
deveria ser democrático, mas pressiona por ser autoritário e despótico. Assim,
passo dias e dias sem poder dizer uma única palavra, presa na disciplina.
Ontem, isso aconteceu novamente comigo na pergunta sobre a devastação da
Amazônia nos noticiários.
Preocupado com isso,
lembrei-me imediatamente do cronista Nelson Rodrigues e de seu
personagem recorrente Palhares, caracterizado como “patife” uma palavra
muito feia do português, com sinônimos abundantes, que Cervantes
em Dom Quixote usa como malandragem, mas poderia usar “mequetrefe”, bonito e
muito particularmente "ojete" dos mexicanos. Juan Montalvo
o define: “- Ele é o pior dos homens, aquele que, sendo mal, quer ser bom;
fala de virtude e modéstia, no entanto, é infame...”
Não consegui encontrar a
origem do termo "patife", mas em outra pandemia, o bardo Shakespeare
recomenda: "As palavras são como ‘patifes’ a partir do momento em que
as promessas as desonram. Elas se tornarão impostoras de tal maneira que acho
repugnante usá-las para provar que tenho razão”.
O poder autoritário patife
ignora a lei e promove o culto reverencial pelo patrimônio ou descendentes
sacrificados. Cria reconhecimentos de fidelidade cega e honra, aumentando assim
a distanciamento entre ricos e pobres, urbanos e rurais em uma sociedade que se
originou com catarses [derivada do antigo grego katharsis (καθάρσις),
usada por Platão e que significa "purificação"] e conquista
a igualdade de direitos e deveres em todos os sentidos como Liberdade. Seu
efeito terapêutico é através da purga ou descarga de afetos socio-patogênicos
ligados a eventos traumáticos através de sua evocação, que agora a mídia e os
noticiários da TV mostram cotidianamente não apenas sobre pandemia,
tratamentos, mas execução de políticas públicas do Poder Branco de Trump.
O conceito de liberdade
perde o significado de sua gênese natural inerente ao ser vivo (como entre os
povos indígenas) e passa a ter o conceito de poder concedido, que cobiça a
todos, na lei cidadã. No entanto, lenta e gradualmente, os nobres vão por costume
ou herança heráldica e pecúlio transmutar-se em elite militar ou religiosa-antiga,
e mais tarde burocráticos para subordinar os menos iguais (Animal Farm, G.
Orwell).
O método catártico
é uma técnica psicoterapêutica criada por Joseph Breuer e
desenvolvida em colaboração com Sigmund Freud no final do século
XIX em Viena, mas de uso psicossocial.
Em um país onde 15.000
empresas que são “donas” de 101 milhões
de hectares, enquanto 4 milhões e 300.000 camponeses e agricultores familiares
detêm apenas 70 milhões de hectares (com uma área média de 15 ha), não é
novidade que o chefe para assuntos territoriais é o presidente da milícia rural
UDR e que o senhor presidente diz em público que permitirá que os proprietários
de terras (em terras públicas por meio de grilagem, nos últimos 131 anos) os
defendam através de fuzis de assalto "7.62" (conhecidos pelas marcas
M16, AK 47, AK 58 e outros).
A devastação é programada
sobre as terras indígenas, as de populações tradicionais ou sobre as pequenas
propriedades familiares de camponeses. A expansão da agricultura de corporações
internacionais, quanto mais devastação houver, mais investimentos serão
necessários e maior será a margem de lucro ou receita para a apropriação da
mais-valia. Eles fazem jogo de cenário.
No passado armaram os
bandidos do Rio de Janeiro com medo da subversão e hoje temos 5 ex-governadores
presos, tão "patifes" que roubam até na compra de respiradores na
pandemia (desculpe meu cinismo) e a milícia é o senhor feudal no Estado do Rio
de Janeiro. A mesma TV anuncia que agora ela passa a ser um cartel com vinculação
com o narcotráfico.
Juntamente com a elite
dos nobres e religiosos, a terceira elite, a burocrática posiciona o político
que instala-se e chama a opinião pública para ser seu representante (meramente
burocrático) como se ele fosse um estadista ou governante quando a própria
burocracia tem governo centralizado no modelo adotado e não precisa de
executivo ou diretor...
Logo a "heteronomia
oculta", a justiça heráldica ou confessional dos grupos ou fraternidades
no estilo daqueles existentes nas universidades norte-americanas e em lojas
secretas, instituí sua servidão às corporações. Chegamos à corrupção quase religião,
onde o Estado ausente leva ao medo e submete os desesperados ao pagamento de
indulgência ou dízimo para ter paz espiritual e os pastores impõem o voto de
confiança cega ou obediência dos fiéis, garantindo os negócios de ambas as
partes religiosos e nobres e militares.
O pior é que o militar de
segundo nível nas policiais militares quando veem o mau exemplo dos primeiros,
se transformam em bandido organizados usando formação e patentes para treinar e
ser comandante de milícias, protegendo criminosos. É assim que vivenciamos as narco
milícias, criadas como vimos a partir da ditadura formal, impedindo a
conscientização da população com desejo medieval de acabar com os privilégios e
mudar democraticamente para a harmonia política com a educação.
Essa é a triste realidade
da América Latina, África e Ásia subordinada às corporações e nações ricas dos
EE.UU. e da Europa, muito preocupada com a devastação da Amazônia, mas muito
mais com sua riqueza conquistada pelo espólio pirata e pelas guerras.
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