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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Patifaria heráldica



11 de julho
Por Sebastião Pinheiro

Nos tempos feudais, os nobres e suseranos com poder absoluto sobre a vida administravam justiça, obrigações e outorgavam normas e comportamentos. Por seu "bem prazer", assumiam o comando militar conduzindo vassalos à guerra por ganância dos territórios e riquezas com possível imolação, ou glória na vitória. Um exemplo são os sanguinários sacerdotes da igreja nas Cruzadas e Inquisições pelo mundo. 

A pandemia impõe o isolamento e a quem é disciplinado o obriga a estudar quando ele vê na TV ou em outras meios de informações da mídia carregados de intenções indescritíveis do poder que deveria ser democrático, mas pressiona por ser autoritário e despótico. Assim, passo dias e dias sem poder dizer uma única palavra, presa na disciplina. Ontem, isso aconteceu novamente comigo na pergunta sobre a devastação da Amazônia nos noticiários. 

Preocupado com isso, lembrei-me imediatamente do cronista Nelson Rodrigues e de seu personagem recorrente Palhares, caracterizado como “patife” uma palavra muito feia do português, com sinônimos abundantes, que Cervantes em Dom Quixote usa como malandragem, mas poderia usar “mequetrefe”, bonito e muito particularmente "ojete" dos mexicanos. Juan Montalvo o define: “- Ele é o pior dos homens, aquele que, sendo mal, quer ser bom; fala de virtude e modéstia, no entanto, é infame...” 

Não consegui encontrar a origem do termo "patife", mas em outra pandemia, o bardo Shakespeare recomenda: "As palavras são como ‘patifes’ a partir do momento em que as promessas as desonram. Elas se tornarão impostoras de tal maneira que acho repugnante usá-las para provar que tenho razão”. 

O poder autoritário patife ignora a lei e promove o culto reverencial pelo patrimônio ou descendentes sacrificados. Cria reconhecimentos de fidelidade cega e honra, aumentando assim a distanciamento entre ricos e pobres, urbanos e rurais em uma sociedade que se originou com catarses [derivada do antigo grego katharsis (καθάρσις), usada por Platão e que significa "purificação"] e conquista a igualdade de direitos e deveres em todos os sentidos como Liberdade. Seu efeito terapêutico é através da purga ou descarga de afetos socio-patogênicos ligados a eventos traumáticos através de sua evocação, que agora a mídia e os noticiários da TV mostram cotidianamente não apenas sobre pandemia, tratamentos, mas execução de políticas públicas do Poder Branco de Trump. 

O conceito de liberdade perde o significado de sua gênese natural inerente ao ser vivo (como entre os povos indígenas) e passa a ter o conceito de poder concedido, que cobiça a todos, na lei cidadã. No entanto, lenta e gradualmente, os nobres vão por costume ou herança heráldica e pecúlio transmutar-se em elite militar ou religiosa-antiga, e mais tarde burocráticos para subordinar os menos iguais (Animal Farm, G. Orwell). 

O método catártico é uma técnica psicoterapêutica criada por Joseph Breuer e desenvolvida em colaboração com Sigmund Freud no final do século XIX em Viena, mas de uso psicossocial. 

Em um país onde 15.000 empresas  que são “donas” de 101 milhões de hectares, enquanto 4 milhões e 300.000 camponeses e agricultores familiares detêm apenas 70 milhões de hectares (com uma área média de 15 ha), não é novidade que o chefe para assuntos territoriais é o presidente da milícia rural UDR e que o senhor presidente diz em público que permitirá que os proprietários de terras (em terras públicas por meio de grilagem, nos últimos 131 anos) os defendam através de fuzis de assalto "7.62" (conhecidos pelas marcas M16, AK 47, AK 58 e outros). 


A devastação é programada sobre as terras indígenas, as de populações tradicionais ou sobre as pequenas propriedades familiares de camponeses. A expansão da agricultura de corporações internacionais, quanto mais devastação houver, mais investimentos serão necessários e maior será a margem de lucro ou receita para a apropriação da mais-valia. Eles fazem jogo de cenário. 

No passado armaram os bandidos do Rio de Janeiro com medo da subversão e hoje temos 5 ex-governadores presos, tão "patifes" que roubam até na compra de respiradores na pandemia (desculpe meu cinismo) e a milícia é o senhor feudal no Estado do Rio de Janeiro. A mesma TV anuncia que agora ela passa a ser um cartel com vinculação com o narcotráfico. 

Juntamente com a elite dos nobres e religiosos, a terceira elite, a burocrática posiciona o político que instala-se e chama a opinião pública para ser seu representante (meramente burocrático) como se ele fosse um estadista ou governante quando a própria burocracia tem governo centralizado no modelo adotado e não precisa de executivo ou diretor... 

Logo a "heteronomia oculta", a justiça heráldica ou confessional dos grupos ou fraternidades no estilo daqueles existentes nas universidades norte-americanas e em lojas secretas, instituí sua servidão às corporações. Chegamos à corrupção quase religião, onde o Estado ausente leva ao medo e submete os desesperados ao pagamento de indulgência ou dízimo para ter paz espiritual e os pastores impõem o voto de confiança cega ou obediência dos fiéis, garantindo os negócios de ambas as partes religiosos e nobres e militares. 

O pior é que o militar de segundo nível nas policiais militares quando veem o mau exemplo dos primeiros, se transformam em bandido organizados usando formação e patentes para treinar e ser comandante de milícias, protegendo criminosos. É assim que vivenciamos as narco milícias, criadas como vimos a partir da ditadura formal, impedindo a conscientização da população com desejo medieval de acabar com os privilégios e mudar democraticamente para a harmonia política com a educação. 

Essa é a triste realidade da América Latina, África e Ásia subordinada às corporações e nações ricas dos EE.UU. e da Europa, muito preocupada com a devastação da Amazônia, mas muito mais com sua riqueza conquistada pelo espólio pirata e pelas guerras.

*** 

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