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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

domingo, 4 de agosto de 2019

Direcionadores Genéticos

URGENTE!

POR SEBASTIÃO PINHEIRO


A IUCN, uma ampla rede global de instituições relacionadas com a conservação da natureza, publicou em maio deste ano um relatório sobre biologia sintética, no qual são defendidos os direcionadores genéticos (genes drive), uma forma de engenharia genética para causar a extinção intencional de espécies inteiras. De acordo com o relatório de 2019 do painel Ipbes das Nações Unidas, um milhão de espécies estão em perigo de extinção, o que torna este relatório da IUCN um cínico paradoxo. A explicação é que os promotores da tecnologia de extinção assaltaram o grupo que preparou o relatório.


Os estimuladores genéticos são uma tecnologia para produzir organismos transgênicos, que buscam garantir que os genes manipulados passem para 100% dos descendentes, herdando assim os genes alterados para uma população inteira ou mesmo para uma espécie inteira. Por exemplo, se querer ser usado para que apenas machos de uma espécie nascem para causar sua extinção. (https://tinyurl.com/y2lgbu27). Além da Bayer-Monsanto, DuPont e outras empresas planejam seu uso na agricultura (para extinguir ervas ou insetos que as empresas dizem que são prejudiciais à cultura), seria a primeira vez que se liberam intencionalmente organismos transgênicos a natureza, agressivamente dominantes, para manipular geneticamente espécies silvestres. Também é considerada uma arma biológica e o principal financiador dessa tecnologia é o exército dos Estados Unidos. (https://tinyurl.com/y59fkl7c). 


O Congresso da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, por sua sigla em inglês) adotou a resolução 086 de 2016, que exorta a administração da agência a realizar um relatório sobre os impactos na conservação e a natureza da biologia sintética e, especialmente, da controvertida técnica dos direcionadores genéticos, abstendo-se de defender ou apoiar esta tecnologia ou endossando suas pesquisas ou experimentos no campo.


No mesmo ano, 30 personalidades globais em ecologia e conservação e várias organizações científicas alertaram para as graves consequências que os direcionadores genéticos poderiam ter, chamando para interromper seu uso. 170 organizações internacionais demandaram que a Convenção sobre Diversidade Biológica estabelecesse uma moratória sobre qualquer liberação a campo. Em 2018, 250 organizações e três relatores especiais das Nações Unidas exortaram novamente à FAO e à CBD que parassem a experimentação e a liberação dessa tecnologia na natureza ou na agricultura por causa de seus altos riscos.


No entanto, este relatório da IUCN, chamado Genetic Borders for Conservation (Fronteiras Genética para a Conservação), propõe o uso da biologia sintética a campo aberto; por exemplo, criando árvores transgênicas para reflorestamento ou revitalização de mamutes, além de promover o uso de direcionadores genéticos para eliminar espécies, como ratos, mosquitos e outras.


O relatório, longe de ser científico e objetivo, é o produto de um grupo severamente distorcido. Incluindo, de membros com interesses comerciais na tecnologia.


De acordo com uma análise detalhada do Grupo ETC, 40 membros do grupo de elaboração, 22 declararam posições a favor da tecnologia e/ou conflitos de interesse sérios. A IUCN não incluiu pesquisadores ou organizações da sociedade civil com posições críticas para a tecnologia, algo que requer a decisão 086. (https://tinyurl.com/yxvbq8ev)


Três instituições que trabalham para promover e liberar direcionadores genéticos, Target Malaria, Revive e Restore e o projeto Gbird (sigla em inglês para o Invasive Roedor Genetic Biocontrol project), financiado por Bill Gates e/ou pelo Exército dos Estados Unidos, conseguiram inserir 15 Membros associados ou funcionários por eles no grupo de preparação do relatório da IUCN. No grupo de redação, o viés é pior: de 14 autores, 11 participam das três instituições mencionadas e/ou na pesquisa e promoção da biologia sintética e dos direcionadores genéticos.

Um dos membros mais parciais é o próprio presidente do relatório, Kent Redford, um conhecido defensor das tecnologias que devem ser avaliadas. Desde 2012, tem citado em vários eventos para promover o uso da biologia sintética na conservação. Ele tem uma empresa de consultoria privada que trabalhou para a transnacional de transgênicos DuPont e para o Revive and Restore. Ele é membro do comitê de ética da Target Malaria.


Em vez de abrir um apelo transparente para integrar várias vozes e perspectivas na preparação do relatório, conforme determinado pela decisão 086, a IUCN nomeou Kent Redford como presidente, que integrou outros membros com os mesmos interesses. Dos 40 membros, apenas sete são do Sul global e apenas um é indígena, apesar do IUCN ter seis resoluções referidas que os povos indígenas devem participar dos processos de elaboração e tomada de decisão. Além disso, esse problema afeta diretamente seus habitats e territórios.


Este relatório tendencioso deve permanecer como está: um livreto de propaganda de biologia sintética e direcionadores genéticos. A IUCN deve rejeitá-lo como base para discussão e retomar a decisão 086, designando um grupo para preparar um relatório que integre perspectivas críticas e baseado no princípio da precaução, bem como no respeito à natureza e aos povos indígenas.


La Jornada, CDMX, México
*Silvia Ribeiro
Pesquisadora do Grupo ET

                                      *** 
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