Fundação Juquira Candiru
RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS EM ALIMENTOS
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, em seu
Seminário Nacional em Recife deu
a público os resultados da contaminação de alimentos por resíduos de
agrotóxicos que ela deveria controlar, fiscalizar e prevenir. Qual o significado deste ato em um mundo
com tantos simulacros e virtualizações.
Tentemos decodificar: - O sábio
Albert Einstein em um artigo1 diz: “-
Poderia parecer que não existissem diferenças metodológicas essenciais entre a
astronomia e a economia: o objetivo dos cientistas é, em ambos campos,
descobrir leis de validade universal para um grupo limitado de fenômenos, a fim
de mostrar, o mais claramente possível, sua inter-relação. Mas é indiscutível a
existência de tal tipo de diferenças metodológicas. Não é fácil descobrir leis
gerais no campo da economia dado que os fenômenos econômicos observáveis estão
amiúde influídos por diversos fatores que é muito difícil avaliar em separado.
Por outra parte, a experiência acumulada desde o começo do chamado período
civilizado da história humana, como bem se sabe, foi sempre amplamente
influenciada e condicionada por causas que de modo algum são de natureza
exclusivamente econômica. Por exemplo, ao longo da história, a maioria dos
principais estados deveram sua existência à conquista. Os conquistadores
estabeleceram-se, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país
conquistado. Monopolizaram a propriedade da terra e designaram, entre os seus,
aos membros do clero. Estes sacerdotes, que controlavam a educação, converteram
a divisão classista da sociedade em uma instituição permanente e criaram um
sistema de valores através do qual, desde então, pode guiar-se, em grande
medida inconscientemente, a conduta social dos homens.
Entretanto,
a tradição histórica pertence, por assim dizê-lo, ao passado: em nenhuma parte
se superou ao que Thorstein Veblen denominava
de “fase depredatória” do desenvolvimento humano. Os fatos econômicos
observáveis correspondem a esta fase; as leis que podem inferir-se dos mesmos
nem são verificáveis nem válidas em outras fases”.
A situação dos
agrotóxicos tem, hoje, um paralelo com a certificação de alimentos orgânicos:
São normas internacionais, estabelecidas pelo poder industrial exógeno. Os
primeiros como instrumentos messiânicos contra a fome, miséria e epidemias e os
últimos, garantia elitista de qualidade, saúde, status e outros.
De tal sorte que se constituem em dogma, ideologia, doutrina e
tecnociência, construindo sua igreja e ordem, por meio dos governos,
universidades, institutos de tecnologias, organismos multilaterais (FAO, OMS, Codex
Alimentarius, e outros) com suas políticas e campanhas oficiais. Imprescindíveis por serem economicamente
muito lucrativas para governos e instituições de pesquisas. Neles o povo é
vítima, objeto e cobaia.
Antes, internamente, a indústria de agrotóxicos sob tutela do
Estado Nacional democrático foi obrigada a desenvolver, mesmo que
convencionalmente critérios e parâmetros de saúde, (educação e meio ambiente)
para preservação dos cidadãos, mas isso nos países pobres, periféricos e não
democráticos passou a ser "fantasia ou disfarce de regulamentos",
para impedir questionamentos sobre a inexistência de rigor e controle que eram
necessários. Daí é fácil compreender o por quê, agora, da ANVISA responsável,
trazer a público suas denúncias: Impotência, incompetência ou?
Os agrotóxicos mudaram a fisionomia da agricultura mundial com
desastrosos impactos sócio-culturais incrementando os problemas. Por isso, surgiu a agricultura contra os
agrotóxicos, que era chamada de "alternativa" enquanto as autoridades
os chamavam de "defensivos agrícolas" ou "remédios das
plantas" para fascinação, consumismo, impostos, taxas e lucros.
Neste universo os agrotóxicos adquirem forma inconsciente,
virtual e passam a ser o sujeito (público) das políticas nacionais (de
interesse privado). Ser crítico a eles é subversão e até anti-pátria. Usamo-los
para denunciar a ditadura e restaurar a agricultura viva e a cidadania no
campo. Aproveitar-se deles, como agora faz a ANVISA, para ameaçar as estruturas
e poder nos parece parte da velha arte de criar dificuldades para vender de
facilidades, mas atentem que a nova ordem do unilateralismo sob o comando de
George Bush Jr. tipifica como terrorismo, pelo impacto psicossocial.
Na evolução de sua convivência no tempo e espaço da luta entre
os favoráveis e contrários, os governos atravessam da conivência, à
cumplicidade, chegando à incompetência ou inépcia, pois não há lucidez do poder
para impedir ou contrariar os interesses das empresas na evolução tecnológica
de sujeito e objeto.
Seus impactos negativos provocam reações sociais que não
superam o "status quo" e os escândalos esporádicos chegam como
medo e mobilização, por geral contido ou afogado por mecanismos
técno-científicos pouco ou quase nada conhecidos. Não há nada de consciência,
pois o saber contrário aos agrotóxicos se dá sobre uma desconstrução do saber
industrial e reconstrução "alternativa" ao mesmo, pela maioria das
vezes no próprio interesse da mesma empresa. Quando não, as disputas se dão no
plano das estratégias de apagar as denúncias ou escândalos com mídia e
sofismas, por isso para entabular uma disputa contra agrotóxicos é necessária
uma organização ou conjunto de entidades preparadas para tal, sem o qual não há
ambiente para sucesso e alcance da conscientização.
A maior preocupação do "lobby" das empresas, a
GIFAP, é impedir que sua derrota seja rápida com maior impacto sobre o comércio
de seus agrotóxicos. Suas projeções são feitas em cada estado nacional
extraindo as resultantes sociais para aplicar nas gestões de diferentes
circunstâncias e no interesse das empresas.
Nos últimos setenta anos a principal indústria foi a química
derivada do petróleo, onde a farmacêutica, bélica e agrícola são uma só coisa. Por
isso o dogma econômico se consolidou com subsídios de dinheiro público das
nações pobres para indústrias multinacionais de forma direta ou por meio de
créditos com parcelas pagas com quantidades de agrotóxicos.
Elas determinam aos organismos multilaterais e impõem aos
governos campanhas de contenção (exemplos): - "Uma boa Prática Agrícola
no uso de agrotóxicos" (Isso mantém os resíduos de agrotóxicos dentro
das normas conveniadas pelas empresas e organismos multilaterais. O que evita a
lucidez social questionando o uso); mais tarde, "Instalação de
Laboratórios de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos"
(Criando a necessidade e uma solução da indústria) depois - "Manejo
Integrado de Pragas" (Para evitar que se chegue a percepção que os
produtos fazem dano à natureza e meio ambiente), além "Lavado e Coleta
de Embalagens Vazias de Agrotóxicos" (Para impedir o uso da imagem da
embalagem e nome da empresa com repercussão comercial); "Liberação de
Taxas e Registros para baratear os custos e dar maior margens de
competitividade aos agricultores" (Adoção de custos de produção
internacionais, pressionando e impondo a escala e norma do livre comércio
dentro das propriedades rurais nacionais). "Criação de Regras duras
para a Agricultura Orgânica" (como forma de impedir a desorganização
moral do setor de agrotóxicos nas periferias do mundo).
Muitas das campanhas acima não podem ser executadas pelo
governo, logo algumas ONGs são articuladas para campanhas de interesses das
empresas de venenos, como por exemplo: "A dúzia suja"
(proposta de proibição nos países em desenvolvimento, depois de quarenta anos
de proibidos nos países industrializados); M.I.P (onanismo intelectual dentro
de universidades e institutos).
Mais de 80% das bolsas de estudos, dos organismos
internacionais e nacionais, para a área rural, nos países em desenvolvimento,
eram sobre o uso de agrotóxicos nas décadas de 50, 60, 70 e 80. Hoje são
pessoas com futuro obsoleto, muitos tentam transfugar-se para a biotecnologia,
através da biotecnologia, trocando seis por meia dúzia.
Essas e outras campanhas são elaboradas pelas empresas em
consonância com os organismos multilaterais para as entidades ambientalistas ou
não, técnicos, pessoas, muitas vezes, como ação de "inteligência" das
empresas para manter o controle inconsciente ou virtual dos alcances e evolução
dos controles e muitos servem a isso por ingenuidade, desinformação,
carreirismo, dinheiro, vaidade e outras. Estas campanhas podem ser encontradas
em todos os continentes e seus relatórios e resultados servem para as empresas
montarem suas estratégias implementadas por programas oficiais de ajuda e
créditos internacionais.
A indústria química contínua forte e com muita saúde,
entretanto muda a sua praça fabril, que deixa os países industrializados e se
transporta para China, Indonésia, Brasil, México e Argentina, sob forte
influência e apoio do Estado Nacional.
Isso ocorre, pois ela também se vai transformar sua matriz
tecnológica, que deixa a química e passa à biotecnologia, mas isso é organizado
no plano político internacional com a troca do bilateralismo de Yalta
pelo unilateralismo da Organização Mundial do Comércio.
Assim a Rodada Uruguai do GATT re-situa e reorganiza a
indústria transnacional de agrotóxicos para seu último ato: "O Livre
Comércio de Agrotóxicos".
Nós vimos isto no retorno de vinte navios carregados de soja
brasileira da China, quando não foi aberto um processo sequer na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, para responsabilizar as empresas de
agrotóxicos, as cooperativas e os comerciantes de grãos. Por quê? Sua função no
"novo estado" e no uso da "nova língua" é, conformar
consumidores.
Nos últimos trinta anos o surgimento crescente do "fator
ambiental" criou muitos problemas para as empresas, sendo o principal
deles a consciência cidadã para as questões do ambiente e natureza. As poucas empresas de agrotóxicos passam a se
fusionar para entrar em disputa pelo mercado das biotecnologias, nisso as
marcas são importantes e a parte vulnerável das mesmas.
O Dogma do Livre Comércio impede os governos periféricos de
intervir para disciplinar as questões de agrotóxicos ou criar custos, impondo
vontades privativas até nas propagandas e publicidades dos produtos ou passa a fazer
o contrário: O exemplo do Brasil no governo Lula é clarividente, onde a maior
questão atual é: Liberação dos agrotóxicos internacionais, retirando os
ministérios da Saúde e Meio Ambiente de suas decisões (Lei 7802/89). A
justificativa governamental é, baixar os custos de produção para o commodities
e matérias primas nacionais.
O governo "ingênuo" busca atender o
"consumidor" com políticas públicas de interesse privativo e não os
cidadãos em relação absoluta. Esta é a
grande vitória da nova ordem da OMC.
Um dos feitos inconfessáveis, por traz disso é: Permitir, como
já foi feito na Argentina, o uso de venenos proibidos (lá o caso é a Atrazinas,
para controle de soja transgênica em áreas problemas), que se liberadas aqui
vale mais de oito bilhões de dólares/ano, principalmente nas áreas de Cerrado,
Pantanal e Amazônia. A Syngenta nem sequer necessita defender seu produto, pois
o governo e Estado por meio das firmas oficiais determinam isto como a
"Livre Iniciativa" ou "Parceria Público Privado".
O mesmo se passa com os órgãos públicos, onde todos perderam a
noção de sua função de controle dos agrotóxicos e passam a defender o Código de
Defesa do Consumidor, pois os produtos chineses, paraguaios, argentinos,
mexicanos são de má qualidade e necessitam ser controlados, por isso ou pela
indústria "nacional", que devemos "patrioticamente"
proteger.
As consciências contra os agrotóxicos se dispersam e fixam
suas metas na agricultura "alternativa", que se transforma em
"orgânica" ou "agroecológica".
Há uma contradição invisível, pois a "consciência"
antiagrotóxicos que migra para a nova Meca da Agricultura Orgânica
(Agroecológica) se desvanece em sua essência, pois não pode existir onde a
utopia é o não-agrotóxicos. E essa é a
grande vitória da indústria química de venenos. De outra parte na América Latina não
homogênea, a cadeia de agrobusiness, impõe uma certificação ou "fair
trade" em nichos de mercado ideológico e dogmático, para roubar
mais-valia.
Mas isto é induzido como prestação de serviços locais, quando
as empresas do tipo Tradax e Innovasure têm tudo pensado para no
futuro existir somente uma prestadora desses serviços internacionais por meio
de normas, escalas, Lei de Inocuidade cumprindo a Legislação de Bioterrorismo
Alimentar do governo dos Estados Unidos da América.
Einstein tinha toda a razão do mundo.
2 comentários:
Me deparei com este blog por acaso, e fico feliz em ler conteúdos tão ricos. Estou na extensão há um ano e estou cada dia aprendendo mais. Muito obrigada por compartilhar suas ideias e experiências conosco.
Oi Luciana Ribeiro, luta segue, e segue..
Gratidão pelo comentário que tem sido muito raro neste blogue.
Bem-vinda! abraços
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