27 de abril
Por Sebastião Pinheiro
Peço desculpas, pois gostaria de abordar
outros temas diversos, e não a cansativa realidade nacional neste momento de
crise pandêmica, mas é praticamente impossível, pelo tragicômico do poder
executivo nacional na pessoa do nosso mandatário. Durante os últimos 16 meses o
comportamento histriônico e nada formal leva a suspeitar de suas deficiências
psíquicas e de seus mentores na Universidade de Harvard pelo uso de “humor de
banheiro” nas coisas que diz, faz ou propõe.
A demissão do Ministro da Saúde foi vista
como insensatez pela cidadania mundial, embora, apenas polarizada para
cidadania (parte diminuta da população). Já a renúncia do ministro da justiça
trouxe um tsunami de denúncias.
A resposta presidencial na presença de
todo o primeiro escalão do governo formado foi um deboche ao país perante o
mundo. É documento didático internacional em todos os meios da sociedade desde
a educação secundária até os níveis acadêmicos elevados. Nunca antes vimos
tanta baixaria, incompetência, desonestidade em um pronunciamento presidencial.
Não importa se ele, seguindo conselhos do professor em Harvard Olavo de
Carvalho imita Trump ipsis litteris e falou para o seu eleitorado. Foi merda
pura, sem pé nem cabeça, incoerente, além de confuso, contraditório e o mais
grave desmentido imediatamente com documentos. Por mais idiota, uma deputada
não pode oferecer um cargo a não ser como interlocutora ou ventríloquo de
Bolsonaro.
O grave é que ele falava como governo na
presença de todo o primeiro escalão, que se contorcia alguns contendo o riso,
outros a vergonha. No dia anterior veio a público o documento oficial de Estado
sobre o “comunavirus” assinado pelo Chanceler Araújo contestado até mesmo pelo
autor referenciado. Nenhum diplomata constrói aquele documento mesmo quando
solicitado por seu superior, o que faz suspeitar de engendro ideológico uma das
diatribes do professor Olavo de Carvalho.
O trecho que beirou a loucura
delinquente é sobre seu filho que é tratado de “Zero Quatro”. “Eu
cheguei para ele e disse: Ô cara, abre o jogo, você saiu com a filha do vizinho.
A resposta dele foi: - Pai eu saí com a metade do condomínio (centenas
de economias). O trazemos à tona para o assunto que é o comportamento da elite
alienada que está sobre a lei. Não é um fato isolado quando o militar Bolsonaro
diz eu sou a carta magna, o latifundiário, o funcionário público, o policial, o
branco, o rico e o pastor creem ser a lei e a ordem (do sabe com quem está
falando). seguem essa trilha criminosa e ante cidadã.
Peço licença para demonstrar em dois
exemplos: 1. Um famoso jornalista, primo do proprietário do maior jornal do
estado, com renomada atuação como correspondente de guerra no Vietnã e Oriente
Médio, na madrugada de 11 de abril de 1976 se assustou com um casal dentro de
um automóvel próximo à sua casa de muros altos e muito bem protegida, sem risco
pessoal para ele. Foi ao interior da mesma, trouxe uma espingarda de calibre 12
de cano serrado. Essa arma foi muito usada pelos comandos civis e militares de
caça aos comunistas antes, durante e depois do golpe militar e ditadura. Ele
atirou a queima roupa na namorada do médico, uma universitária matando-a. Pelo
crime foi demitido de imediato pelo primo. O julgamento em agosto de 1979 foi
um espetáculo segundo o Jornal da República pela repercussão na Sociedade
local. O réu foi condenado a dez anos de prisão. Uma cela especial foi
construída dentro do Presídio Central de Porto Alegre, onde ele foi alojado e
pode trabalhar contratado pela rede de comunicações concorrente ao primo e do
local transmitindo programas diários para a mesma. Esteve preso menos de dois
anos. Gravou o espancamento de presos e transmitiu no seu programa de rádio.
Foi colocado em liberdade condicional e continuou trabalhando na mesma empresa
por muito tempo. As pessoas as vezes atendem a consigna de pastores, políticos
ou radialistas a soldo, mas no mesmo jornal antes citado anuncia o julgamento
pela Justiça Militar do jovem estudante de física da USP residente no CRUSP,
Jeová Assis Gomes preso político, trocado pelo embaixador alemão sequestrado em
1970. Ele foi assassinado em 1972. Ia ser julgado sete anos depois...
Em "A Ditadura Escancarada",
Elio Gaspari escreveu: “A sentença de morte contra os banidos
auto documenta-se. Entre 1971 e 1973 foram capturados dez. Nenhum sobreviveu”.
Gomes foi o terceiro banido a ser assassinado depois de retornar
clandestinamente ao Brasil.
O segundo é mais estranho, um dos mais
renomados artista plástico do RS morador na Cidade Maravilhosa, caminhando pela
calçadão na praia ao ver um bate boca de um jovem casal, ele engenheiro civil
Sérgio Alexandre Esteves Areal, de 32 anos, casado, pai de quatro filhos, foi
assassinado com cinco tiros pelo pintor Iberê Camargo na Rua Sorocaba, próximo
da esquina com Voluntários da Pátria, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Estamos
em 5 de dezembro de 1980, o calor no Rio de Janeiro ultrapassa os 30º e já se
veem no comércio as cores do clima natalino. Motivo do crime: um diálogo curto
e nervoso entre assassino e vítima, que jamais se viram antes. Sérgio chegara a
seu apartamento uma hora antes, cansado de uma viagem a trabalho, em São Paulo,
na empresa Engesa, onde prestava serviços como projetista.
Ao chegar encontra um clima tenso em casa:
o filho mais novo de dois anos está febril e necessita de um determinado
medicamente. Ele se dispõe a comprá-lo e ao descer até a portaria estabelece
uma trivial desavença doméstica com a esposa Sandra em frente ao prédio onde
moram. No outro passeio, Iberê Camargo está acompanhado da secretária Suely, à
procura de uma loja onde irá comprar cartões de Natal para enviar aos amigos
logo após encerrar os trabalhos no ateliê, próximo dali, na Rua das Palmeiras.
Ele se detém para observar marido e mulher que se desentendem. Impaciente, o
homem dá por encerrada a discussão, e começa a se afastar. Seu destino é uma
farmácia onde irá comprar o remédio para o pequerrucho doente. E só então
percebe o olhar curioso do estranho em sua direção. Sérgio atravessa a rua,
passos nervosos, e critica a curiosidade do estranho: “O que você está
olhando?” Em seguida passa por ele e dá-lhe um esbarrão, desequilibrando o
pintor. Iberê, então, saca de uma bolsa tipo capanga, um revólver Magnum 357,
aponta na direção do estranho e aperta o gatilho cinco vezes. Dois tiros
atingem o peito, um em cada braço, e um na perna. Esta arma militar é de uso
proibido para civis pelo seu “poder de parada” e destruição nos órgãos
atingidos.
Sérgio, que trajava apenas um short e
sandálias havaianas, cai morto. Iberê é preso em flagrante, levado para a 12ª
DP, na Rua Bambina, e alega legítima defesa. Encaminhado à prisão, no Ponto
Zero, foi confortado por inúmeros amigos e admiradores de sua arte, entre eles
o marechal Cordeiro de Farias, que acionou outro militar, o
general Edmundo Murgel, secretário estadual de Segurança, para
que o criminoso recebesse uma deferência toda especial no cárcere.
Não há registro n’ O Globo e Jornal do
Brasil, que deram ampla cobertura ao crime, sobre a interferência também do
general Golbery do Couto e Silva, um dos pilares mais sólidos da
ditadura militar, ainda vigente, no sentido de proporcionar ao criminoso todas
as regalias nos 28 dias que permaneceu preso. Mas na redação do JB, onde eu
trabalhava, sabia-se que Golbery interferira no caso.
Menos de dois meses depois do crime, em 5 de janeiro de 1981, Iberê Camargo
estava em liberdade, “absolvido liminarmente”, pelo juiz Sérgio Verani,
do 4º Tribunal do Júri. Na avaliação do juiz, Iberê agiu em legítima defesa e
usou em sua defesa o “único meio possível e eficaz para se defender.” Estava
estabelecido o recorde de andamento judicial acelerado envolvendo um crime de
morte no Brasil, em todos os tempos. No dia seguinte, Iberê retornaria à sua
rotina profissional e doméstica, como um cidadão que nada deve à Justiça,
embora reconhecesse numa frase a sua indecisão quanto ao futuro: “Não sei o
que vou fazer da vida.” Mas ele soube, sim: continuou a expressar
magnificamente em seus valiosíssimos quadros imagens que refletiam sua visão do
mundo sombrio que o cercava e atormentava” … registros de Ivanir Yazbeck,
no Observatório da Imprensa.
***
- Associação judaica dos EUA exige que Araújo se desculpe por comparar isolamento social a campos de concentração nazistas
"Meu estimado Nelson Rodrigues, desculpe, mas mesmo de longe esse diplomata não é certo nem saudável."
https://oglobo.globo.com/mundo/associacao-judaica-dos-eua-exige-que-araujo-se-desculpe-por-comparar-isolamento-social-campos-de-concentracao-nazistas-24400266
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